Ralph Lauren x Black Horse: STJ analisa conflito marcário com potencial de confusão no mercado de moda

Adriana Brunner • 20 de maio de 2025

O Superior Tribunal de Justiça está diante de mais um caso emblemático sobre os limites da proteção marcária no Brasil. Em pauta, a disputa entre a gigante americana Ralph Lauren e a marca brasileira Black Horse – Polo Farm, ambas atuantes no setor de vestuário com inspiração equestre.


A Ralph Lauren, titular da famosa marca “The Polo/Lauren Company”, questiona no STJ o registro da marca Black Horse – Polo Farm, alegando que o uso combinado da expressão “POLO” e da silhueta de um cavaleiro a cavalo reproduz elementos distintivos que fazem parte de sua identidade visual consolidada globalmente.


Risco de associação indevida


A relatora, ministra Nancy Andrighi, já proferiu voto favorável à nulidade do registro da Black Horse, apontando um “alto grau de semelhança” entre os sinais distintivos das marcas e a consequente possibilidade de confusão ou associação indevida por parte do público consumidor.


Ela ressaltou que, mesmo sem prova de confusão efetiva, a simples possibilidade já é suficiente para justificar a intervenção do Judiciário, com base no artigo 124, inciso XIX, da Lei da Propriedade Industrial (Lei 9.279/96).


Marcas “fracas” ou construção de identidade?


O Tribunal Regional Federal da 2ª Região havia decidido anteriormente pela validade do registro da Black Horse, sob o argumento de que os elementos usados – o termo “POLO” e o cavaleiro – seriam genéricos ou comuns no universo equestre e, por isso, estariam dentro do domínio público.


Contudo, o voto da ministra Nancy traz uma perspectiva mais rigorosa sobre a proteção do conjunto marcário, considerando não apenas a originalidade isolada dos elementos, mas o impacto visual, fonético e ideológico da composição completa.


Ela pontua que marcas mesmo com elementos de baixa distintividade podem ganhar proteção mais ampla quando há construção de reputação consolidada e investimento contínuo na marca, como ocorre com a Ralph Lauren.


O que está em jogo?


Mais do que uma disputa por um registro no INPI, o caso coloca em evidência os limites da concorrência leal e a função econômica da marca como sinal distintivo e veículo de confiança para o consumidor. Em um mercado saturado como o da moda, o valor simbólico e a identidade visual são ativos essenciais para a diferenciação e fidelização.


Se o voto da relatora prevalecer, a decisão pode reforçar o entendimento de que a simples aproximação visual e conceitual entre marcas concorrentes é suficiente para barrar registros que gerem confusão, ainda que os elementos utilizados sejam genéricos.


Conclusão


O desfecho do julgamento, suspenso por pedido de vista do ministro Moura Ribeiro, será importante termômetro sobre o alcance da proteção de marcas notoriamente conhecidas e sobre a forma como o STJ pretende aplicar os critérios do INPI diante de tentativas de apropriação da imagem de grifes consolidadas.


Veja o voto: REsp 2.167.759


Fonte: Migalhas 

Cachaça de Orizona conquista Indicação Geográfica: quando tradição vira ativo estratégico
Por Adriana Brunner 18 de dezembro de 2025
O reconhecimento da Cachaça de Orizona com a Indicação Geográfica (IG) pelo INPI vai muito além de um selo formal.
Marca, autoria e herança: o caso Charlie Brown Jr. e os limites do direito marcário
Por Adriana Brunner 17 de dezembro de 2025
A recente decisão do INPI que retirou da viúva e do filho de Chorão os direitos sobre a marca Charlie Brown Jr. expõe, de forma didática, uma confusão recorrente entre criação artística, uso consolidado e titularidade jurídica da marca.
STJ reforça proteção marcária: dano moral é presumido no uso indevido da marca “Positivo”
Por Adriana Brunner 16 de dezembro de 2025
O ministro Humberto Martins, do STJ, determinou o retorno ao TJ/PR de ação envolvendo o uso da marca “Positivo” por uma instituição de ensino, para reavaliação da indenização por danos morais e materiais.
Embrapa é isenta de taxas para registro de patentes: o que muda
Por Adriana Brunner 11 de dezembro de 2025
A nova lei que isenta a Embrapa do pagamento de taxas ao INPI, SNPC, Ibama e Anvisa reduz o custo de proteger cultivares, tecnologias e pesquisas desenvolvidas pela estatal.
STJ adia decisão sobre patente da semaglutida: o que está realmente em jogo para a indústria e para
Por Adriana Brunner 10 de dezembro de 2025
O adiamento, pelo STJ, do julgamento que decidirá se a patente da semaglutida — princípio ativo do Ozempic — será prorrogada prolonga um dos debates mais sensíveis do país: quando (e se) os genéricos poderão entrar no mercado.
Atrasos no INPI e o caso Ozempic: o que a auditoria revela sobre o sistema de patentes
Por Adriana Brunner 9 de dezembro de 2025
Às vésperas do julgamento no STJ sobre a possível extensão da patente da semaglutida (Ozempic/Wegovy) devido a um atraso de 13 anos no INPI, uma auditoria interna expõe problemas estruturais no exame de patentes — especialmente em áreas farmacêuticas e biotecnológicas.
Concorrência e Trade Dress: Justiça afasta pedido para troca de embalagem de leite fermentado
Por Adriana Brunner 8 de dezembro de 2025
A disputa entre Yakult e o leite fermentado Isinho reacende um ponto essencial do direito marcário: a proteção de formas tridimensionais não alcança elementos funcionais.
Concorrência desleal: empresa é indenizada por uso indevido de segredos industriais
Por Adriana Brunner 5 de dezembro de 2025
A 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJ/SP reconheceu a prática de concorrência desleal no uso indevido de segredos industriais por uma empresa concorrente e por um ex-funcionário que tinha acesso a informações técnicas sigilosas da fabricante lesada.
Castanha de Caju de Serra do Mel: a nova IG que reposiciona o RN no mapa estratégico da qualidade br
Por Adriana Brunner 4 de dezembro de 2025
A conquista da Indicação de Procedência (IP) para a Castanha de Caju de Serra do Mel marca um ponto de inflexão no desenvolvimento produtivo do Rio Grande do Norte — e insere o município no grupo seleto de regiões brasileiras que transformam tradição, terroir e organização produtiva em ativo econômico e reputacional.
Por que o Brasil ainda está distante das potências tecnológicas — e onde estão os caminhos possíveis
Por Adriana Brunner 3 de dezembro de 2025
Os indicadores mais recentes mostram um cenário claro: o Brasil investe proporcionalmente muito menos em Pesquisa & Desenvolvimento do que os países que lideram a inovação global.
Mais Posts