Chile e Brasil lideram inovação na América Latina em 2025; Suíça segue no topo global
O Global Innovation Index (GII) 2025, publicado pela OMPI/WIPO, confirma um cenário já perceptível: a Suíça permanece no topo do ranking mundial, enquanto Chile (51º) e Brasil (52º) surgem como as economias latino-americanas mais bem colocadas. Esses dados trazem sinais positivos, mas também evidenciam desafios estruturais importantes para a transformação de insumos em resultados econômicos e tecnológicos.
O que o índice mede — metodologia
O GII combina dois subíndices de igual peso: (i) Inovation Input Sub-Index — insumos que permitem a inovação (instituições, capital humano, infraestrutura, sofisticação de mercado e de negócios); e (ii) Innovation Output Sub-Index — os resultados efetivos (desempenho tecnológico e de conhecimento; desempenho criativo). Essa lógica “entrada → saída” é essencial para interpretar corretamente os resultados: bons insumos não garantem resultados sem mecanismos de conversão eficientes.
Principais destaques
1) Suíça no topo; China entra no top-10
A Suíça lidera novamente o ranking global (mantendo forças em outputs criativos e alto desempenho em quase todos os pilares). A China entrou pela primeira vez no top-10, um marco que reflete investimentos consistentes em P&D e crescimento em pedidos de patentes. Esses movimentos mostram que liderança em inovação continua ligada tanto a capacidades científicas quanto à escala de investimento e industrialização do conhecimento.
2) Crescimento do gasto em P&D desacelera
O GII registra uma desaceleração do crescimento do gasto global em P&D: 2,9% em 2024 (abaixo dos 4,4% de 2023) e projeção de desaceleração para 2025 — sinal de que o “motor” financeiro da inovação está perdendo impulso em termos de ritmo. Isso implica risco para a capacidade de geração contínua de outputs de alto valor, especialmente em economias que ainda dependem fortemente do investimento público.
3) Venture capital: valor recupera, número de negócios cai
Os valores em dólares de VC se recuperaram (impulsionados por megadeals e investimentos em IA generativa), mas o número total de negócios voltou a cair pelo terceiro ano consecutivo — indicação de concentração geográfica e setorial do financiamento. Para países emergentes, isso significa que capital existe, mas está menos disperso e mais focado (o que dificulta a escala de ecossistemas locais).
4) Na América Latina: liderança e fragilidades
- Chile (51º): avanço em infraestrutura digital, matrículas no ensino superior e estabilidade institucional; porém, gap entre insumos e resultados — o país performa melhor em insumos (43º) do que em outputs (63º), sinalizando necessidade de políticas que acelerem a comercialização e o impacto econômico da pesquisa.
- Brasil (52º): pontos fortes em produção científica e um ecossistema empresarial mais extenso e sofisticado; ainda assim, persiste o desafio de converter isso em resultados comerciais escaláveis. No caso brasileiro, o GII mostra que o país tem desempenho de outputs relativamente superior aos inputs (63º em inputs / 50º em outputs), o que revela um histórico de produção científica relevante, mas também fragilidades nos insumos estruturais e no financiamento aplicado. (Logo atrás vêm México, Uruguai e Colômbia, com uma distribuição regional que vai escancarando grandes heterogeneidades entre os países latino-americanos.)
Conclusão
O GII 2025 é mais que uma lista: é um diagnóstico sobre onde investir esforço institucional e econômico para que o investimento em ciência e capital humano resulte em inovação que possa ser medida no PIB, no comércio exterior e no aumento da produtividade. Para a América Latina, o relatório reafirma tendências já conhecidas — liderança relativa de Chile e Brasil — e aponta para o nó crítico: o salto de qualidade depende de políticas que transformem insumos em resultados mensuráveis e sustentáveis.
Fonte:
Bloomberg Línea