STJ barra extensão da patente do Ozempic: o que muda para pacientes, SUS e genéricos

Adriana Brunner • 23 de dezembro de 2025

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou, por unanimidade, o pedido da farmacêutica Novo Nordisk para estender a exclusividade da patente da semaglutida — princípio ativo do Ozempic e do Rybelsus — no Brasil, mantendo o prazo original de vigência do monopólio, que expira em março de 2026.

A farmacêutica buscava estender a exclusividade até 2038, alegando demora do INPI na análise do pedido.


Fundamento jurídico: lacuna legal e precedentes


No voto, a relatora, ministra Maria Isabel Gallotti, ressaltou que não existe no ordenamento brasileiro previsão legal com critérios objetivos que autorizem a extensão casuística da vigência de patentes em razão de atraso administrativo. A relatora destacou o precedente do STF na ADIn 5.529, que declarou inconstitucional o parágrafo único do art. 40 da Lei de Propriedade Industrial (9.279/96) — a norma que permitia extensão automática do prazo sob certas condições — reforçando que a prorrogação por critérios não previstos em lei não encontra respaldo no sistema jurídico brasileiro.


O que muda para o mercado


Embora a patente ainda esteja vigente até 2026, o cenário pós-exclusividade já começou a ser desenhado:


  • Genéricos e similares poderão entrar no mercado após o vencimento, desde que aprovados pela Anvisa;
  • A expectativa é de redução de preços em torno de 30% ou mais, a depender do nível de concorrência;
  • Laboratórios nacionais passam a ter segurança jurídica para investir no desenvolvimento de versões concorrentes.


Reflexos no SUS e na política de saúde


Hoje, o SUS não oferta medicamentos específicos para obesidade, em grande parte pelo custo elevado da semaglutida. Estimativas apontam que sua incorporação custaria cerca de R$ 8 bilhões por ano. Com a queda de preços, o debate sobre inclusão no sistema público ganha nova dimensão.


Nesse sentido, o Ministério da Saúde já solicitou à Anvisa prioridade na análise de cerca de 20 pedidos de semaglutida e liraglutida, preparando o terreno para um cenário de maior oferta e concorrência.


O ponto de tensão: inovação x acesso


O setor farmacêutico alerta que a impossibilidade de ajustes de prazo, em contextos de exame lento, pode reduzir o tempo efetivo de exclusividade e desestimular investimentos em P&D no país. Por outro lado, a decisão do STJ reforça que eventuais correções sistêmicas devem vir do legislador, e não do Judiciário.


O caso Ozempic deixa claro que o Brasil enfrenta um dilema estrutural: como equilibrar inovação, previsibilidade e acesso, sem distorcer o sistema. A resposta, cada vez mais evidente, passa menos por exceções e mais por reformas institucionais.


Fonte: G1

Brasileiros apoiam inovação e reconhecem o papel das patentes, revela estudo inédito
Por Adriana Brunner 22 de dezembro de 2025
Pesquisa nacional realizada pela Nexus, a pedido do Movimento Brasil pela Inovação, traz um dado relevante para o debate público: quando a população compreende como funciona o sistema de patentes, o apoio à proteção da inovação é majoritário.
Sem segurança jurídica, não há inovação — há atraso, custo e dependência
Por Adriana Brunner 19 de dezembro de 2025
O debate sobre segurança jurídica em propriedade intelectual deixou de ser técnico para se tornar estratégico.
Cachaça de Orizona conquista Indicação Geográfica: quando tradição vira ativo estratégico
Por Adriana Brunner 18 de dezembro de 2025
O reconhecimento da Cachaça de Orizona com a Indicação Geográfica (IG) pelo INPI vai muito além de um selo formal.
Marca, autoria e herança: o caso Charlie Brown Jr. e os limites do direito marcário
Por Adriana Brunner 17 de dezembro de 2025
A recente decisão do INPI que retirou da viúva e do filho de Chorão os direitos sobre a marca Charlie Brown Jr. expõe, de forma didática, uma confusão recorrente entre criação artística, uso consolidado e titularidade jurídica da marca.
STJ reforça proteção marcária: dano moral é presumido no uso indevido da marca “Positivo”
Por Adriana Brunner 16 de dezembro de 2025
O ministro Humberto Martins, do STJ, determinou o retorno ao TJ/PR de ação envolvendo o uso da marca “Positivo” por uma instituição de ensino, para reavaliação da indenização por danos morais e materiais.
Embrapa é isenta de taxas para registro de patentes: o que muda
Por Adriana Brunner 11 de dezembro de 2025
A nova lei que isenta a Embrapa do pagamento de taxas ao INPI, SNPC, Ibama e Anvisa reduz o custo de proteger cultivares, tecnologias e pesquisas desenvolvidas pela estatal.
STJ adia decisão sobre patente da semaglutida: o que está realmente em jogo para a indústria e para
Por Adriana Brunner 10 de dezembro de 2025
O adiamento, pelo STJ, do julgamento que decidirá se a patente da semaglutida — princípio ativo do Ozempic — será prorrogada prolonga um dos debates mais sensíveis do país: quando (e se) os genéricos poderão entrar no mercado.
Atrasos no INPI e o caso Ozempic: o que a auditoria revela sobre o sistema de patentes
Por Adriana Brunner 9 de dezembro de 2025
Às vésperas do julgamento no STJ sobre a possível extensão da patente da semaglutida (Ozempic/Wegovy) devido a um atraso de 13 anos no INPI, uma auditoria interna expõe problemas estruturais no exame de patentes — especialmente em áreas farmacêuticas e biotecnológicas.
Concorrência e Trade Dress: Justiça afasta pedido para troca de embalagem de leite fermentado
Por Adriana Brunner 8 de dezembro de 2025
A disputa entre Yakult e o leite fermentado Isinho reacende um ponto essencial do direito marcário: a proteção de formas tridimensionais não alcança elementos funcionais.
Concorrência desleal: empresa é indenizada por uso indevido de segredos industriais
Por Adriana Brunner 5 de dezembro de 2025
A 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJ/SP reconheceu a prática de concorrência desleal no uso indevido de segredos industriais por uma empresa concorrente e por um ex-funcionário que tinha acesso a informações técnicas sigilosas da fabricante lesada.
Mais Posts