Ajuste de prazo das patentes e o efeito vinculante da ADIn 5.529: o novo cenário para a indústria farmacêutica brasileira
O julgamento da ADIn 5.529 pelo STF redesenhou o mapa das patentes no Brasil — e, especialmente, no setor farmacêutico. Ao declarar inconstitucional o parágrafo único do art. 40 da Lei de Propriedade Industrial, o Supremo eliminou a prorrogação automática do prazo de exclusividade em razão de atrasos do INPI e devolveu ao sistema o princípio da temporariedade: 20 anos contados do depósito, sem “bônus” por mora estatal.
Esse ajuste não é apenas técnico — é econômico, social e sanitário. Com a decisão, o Brasil passa a operar com um horizonte previsível para o término das patentes, abrindo espaço para a entrada organizada de genéricos e biossimilares, redução de preços e estímulo à concorrência legítima.
A decisão tem efeito vinculante (art. 102, §2º da CF), o que obriga tanto o INPI quanto o Judiciário a aplicarem o entendimento do STF. Em outras palavras: não há mais base jurídica para alongar prazos de patentes farmacêuticas sob alegação de atraso no exame.
O caso da liraglutida, analisado recentemente pelo TRF-1, ilustra bem esse novo cenário. O tribunal suspendeu decisão que havia estendido por mais de oito anos o prazo da patente da Novo Nordisk, reconhecendo que a prorrogação contrariava o precedente da ADIn 5.529 e gerava dano social e econômico — ao impedir a entrada de genéricos e manter preços monopolizados.
Em paralelo, a Anvisa vem priorizando o registro de medicamentos essenciais (como os à base de semaglutida), para garantir continuidade do abastecimento e autonomia produtiva nacional, em consonância com a política industrial de saúde.
Por que isso importa?
Porque previsibilidade é o ativo mais valioso da inovação. A decisão do STF restabelece um marco de segurança jurídica e de concorrência saudável, no qual empresas inovadoras são incentivadas a desenvolver continuamente novos produtos, e não a depender de prorrogações automáticas.
O efeito prático:
- Termo das patentes agora é fixo (20 anos do depósito);
- Extensões automáticas são inconstitucionais;
- O precedente é vinculante para todo o Judiciário e o INPI;
- Setor farmacêutico precisa ajustar estratégias de P&D e portfólio;
- Genéricos e biossimilares ganham espaço;
- O SUS tende a se beneficiar com redução de custos e ampliação do acesso.
O recado institucional é claro: patentes têm prazo, e o prazo tem propósito. O equilíbrio entre proteção, inovação e acesso é o que sustenta a credibilidade do sistema.
Fonte:
Migalhas












