STF e o Artigo 19 do Marco Civil da Internet: O futuro da responsabilidade das plataformas digitais no Brasil

Adriana Brunner • 4 de dezembro de 2024

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia, em breve, um julgamento crucial para o futuro do Marco Civil da Internet e da responsabilidade das plataformas digitais. Em pauta está a constitucionalidade do Artigo 19, que atualmente estabelece que as plataformas só podem ser responsabilizadas por conteúdos publicados por usuários se houver uma ordem judicial para remoção que seja ignorada.


Por que o Artigo 19 está em debate?


Desde sua criação há uma década, o Artigo 19 tem sido criticado por não acompanhar os desafios contemporâneos. O principal argumento contra o artigo é que ele transfere o ônus da responsabilização às vítimas de crimes na internet, como racismo, discurso de ódio e desinformação. O tempo necessário para uma decisão judicial, muitas vezes, faz com que o dano causado seja irreparável, deixando indivíduos e a sociedade desprotegidos.


Além disso, há o entendimento de que o artigo contraria direitos fundamentais previstos na Constituição, como o direito à reparação de danos e à proteção da dignidade humana. Segundo especialistas, a regra vigente cria um “salvo-conduto” para que plataformas lucrem com conteúdos prejudiciais sem consequências legais imediatas.


A proposta de mudança: o modelo "Notice and Take Down"


Os críticos do Artigo 19 defendem um sistema de notificação e retirada de conteúdo (“notice and take down”), no qual qualquer pessoa pode notificar a plataforma sobre conteúdos ilícitos. Caso a denúncia seja comprovada e as plataformas não tomem providências, elas se tornariam responsáveis pela omissão. Esse modelo, já adotado pela União Europeia, demonstrou ser eficiente em proteger direitos sem comprometer a liberdade de expressão.


Liberdade de expressão em risco?


Um dos principais argumentos em defesa do Artigo 19 é que sua revogação levaria as plataformas a adotar remoções preventivas, possivelmente cerceando a liberdade de expressão. No entanto, especialistas apontam que liberdade de expressão não significa ausência de regras. Na prática, as plataformas já removem conteúdos protegidos por direitos autorais ou que violem seus termos de uso, demonstrando capacidade técnica e operacional para lidar com notificações de outros tipos de conteúdo ilícito.


Impactos no Brasil


O debate vai além do Marco Civil da Internet. O Brasil precisa corrigir a assimetria de responsabilidades entre o mundo online e offline. Hoje, crimes cometidos digitalmente muitas vezes não recebem o mesmo tratamento que os cometidos fora do ambiente virtual, gerando insegurança jurídica e agravando os danos à sociedade.


Caso o STF invalide o Artigo 19, o país pode inaugurar uma nova fase de regulação mais eficiente para o ambiente digital, com impactos positivos para a proteção de direitos fundamentais e a responsabilização das plataformas.


Conclusão


O julgamento pelo STF é um marco na busca por um equilíbrio entre liberdade de expressão e a responsabilização por conteúdos ilícitos. A revogação do Artigo 19 e a adoção de um modelo como o “notice and take down” têm potencial para tornar o ambiente digital mais seguro e justo, alinhando o Brasil às melhores práticas internacionais.


Fonte: O Globo

STJ reforça proteção marcária: dano moral é presumido no uso indevido da marca “Positivo”
Por Adriana Brunner 16 de dezembro de 2025
O ministro Humberto Martins, do STJ, determinou o retorno ao TJ/PR de ação envolvendo o uso da marca “Positivo” por uma instituição de ensino, para reavaliação da indenização por danos morais e materiais.
Embrapa é isenta de taxas para registro de patentes: o que muda
Por Adriana Brunner 11 de dezembro de 2025
A nova lei que isenta a Embrapa do pagamento de taxas ao INPI, SNPC, Ibama e Anvisa reduz o custo de proteger cultivares, tecnologias e pesquisas desenvolvidas pela estatal.
STJ adia decisão sobre patente da semaglutida: o que está realmente em jogo para a indústria e para
Por Adriana Brunner 10 de dezembro de 2025
O adiamento, pelo STJ, do julgamento que decidirá se a patente da semaglutida — princípio ativo do Ozempic — será prorrogada prolonga um dos debates mais sensíveis do país: quando (e se) os genéricos poderão entrar no mercado.
Atrasos no INPI e o caso Ozempic: o que a auditoria revela sobre o sistema de patentes
Por Adriana Brunner 9 de dezembro de 2025
Às vésperas do julgamento no STJ sobre a possível extensão da patente da semaglutida (Ozempic/Wegovy) devido a um atraso de 13 anos no INPI, uma auditoria interna expõe problemas estruturais no exame de patentes — especialmente em áreas farmacêuticas e biotecnológicas.
Concorrência e Trade Dress: Justiça afasta pedido para troca de embalagem de leite fermentado
Por Adriana Brunner 8 de dezembro de 2025
A disputa entre Yakult e o leite fermentado Isinho reacende um ponto essencial do direito marcário: a proteção de formas tridimensionais não alcança elementos funcionais.
Concorrência desleal: empresa é indenizada por uso indevido de segredos industriais
Por Adriana Brunner 5 de dezembro de 2025
A 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJ/SP reconheceu a prática de concorrência desleal no uso indevido de segredos industriais por uma empresa concorrente e por um ex-funcionário que tinha acesso a informações técnicas sigilosas da fabricante lesada.
Castanha de Caju de Serra do Mel: a nova IG que reposiciona o RN no mapa estratégico da qualidade br
Por Adriana Brunner 4 de dezembro de 2025
A conquista da Indicação de Procedência (IP) para a Castanha de Caju de Serra do Mel marca um ponto de inflexão no desenvolvimento produtivo do Rio Grande do Norte — e insere o município no grupo seleto de regiões brasileiras que transformam tradição, terroir e organização produtiva em ativo econômico e reputacional.
Por que o Brasil ainda está distante das potências tecnológicas — e onde estão os caminhos possíveis
Por Adriana Brunner 3 de dezembro de 2025
Os indicadores mais recentes mostram um cenário claro: o Brasil investe proporcionalmente muito menos em Pesquisa & Desenvolvimento do que os países que lideram a inovação global.
Registro de estampas: como proteger os ativos visuais da sua empresa?
Por Adriana Brunner 2 de dezembro de 2025
As estampas deixaram de ser apenas detalhes estéticos e se tornaram ativos estratégicos para marcas de moda, têxtil, design e varejo.
A DISPUTA PELO USO DA FIGURA DE COROA
Por Adriana Brunner 1 de dezembro de 2025
No processo envolvendo as marcas LARISSA MANOELA e MARI MARIA MAKEUP, a discussão girou em torno do uso do símbolo da coroa.
Mais Posts